Cúmplices olhares

Participar do processo de seleção de obras que compõem o acervo do MIMANfoi um prazeroso exercício em busca de contemplar, além do olhar do curador, o talento dos artistas e as futuras (e, muitas vezes, ncógnitas) expectativas do público. O acervo agora exposto é constituído de obras que, afetuosamente, abraçam a tradição naïf brasileira, além de acolher e valorizar o novo, afinal a arte naïf tornou-se a mais perene das estéticas também por não ser canônica, engessada.

Almejo que o conjunto de obras motive o público, além do simples exercício do olhar, a buscar o contato com algumas das camadas de interpretação dessas obras, o que terá como consequência o acesso a diferentes níveis de impacto estético inerentes a elas. Entendo que, dada a identificação desse acervo com o peculiar manancial criativo da arte naïf, o público constatará a capacidade dos artistas brasileiros de transformar a mais comezinha das realidades em apurada poesia, promovendo uma dialética alternativa de cultura e arte, além de uma cumplicidade de olhares.

Augusto Luitgards

Augusto Luitgards é doutor em Linguística Aplicada pela UFMG, Mestre em Linguística pela UnB e Especialista em História da Arte pela PUC-MG. Nessa última pós-graduação, desenvolveu monografias sobre os ex-votos do Museu da Igreja do Bonfim, Livro das Horas e aspectos construtivos do Museu da Boa Morte, na cidade de Goiás.

Curador de importantes exposições de arte naïf no Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraíba. Colecionador entusiasmado de arte naïf brasileira, arte sacra colonial e gravuras de artistas nacionais e consultor sobre desenvolvimento de coleções privadas de arte.