(Por Pedro Cruz)
A arte naïf, uma das várias correntes pós impressionistas, é conhecida pela espontaneidade e criatividade instintiva. Figurativos e em geral autodidatas, os artistas naïfs não se atém a representação fiel da realidade: predominam as composições planas, bidimensionais e de colorido exuberante.
A arte naïf é bem mais interessante que a simples constatação de suas características. Para entendê-la melhor é fundamental entender o contexto em que surgiu, como floresceu e evoluiu.
O final do século XIX na Europa
Gauguin, Toulouse-Lautrec, Van Gogh, Seurat, Cézanne, Paul Signac e Rousseau estão entre os principais nomes da corrente que se desenvolveu na Europa entre o final do século XIX e o começo do XX.
Rousseau, considerado um dos principais representantes da arte naïf, ganhou o respeito de artistas como Picasso e Kandinsky por revelar “as novas possibilidades da simplicidade”. Muito justificadamente viram nele o padrinho da pintura do século XX.
Enquanto isso, na América Latina
Durante o séc. XIX a pintura na América Latina esteve atrelada aos valores estéticos vigentes nas antigas metrópoles. Ao proclamarem sua independência, diversos países latinos fizeram surgir novos valores culturais e a necessidade de busca por uma identidade visual e cultural local.
Vemos isso com clareza na produção de quase todos os países da região, inclusive no Brasil. Aos poucos, os artistas locais deixaram de retratar temas de influência espanhola e portuguesa para buscar a visão de cada país.
No Brasil, a arte naïf passou a ser valorizada após o movimento Modernista (1922) que apresentou, entre suas tendências, o gosto por tudo o que era genuinamente nacional.
Tributo a Wilhelm Uhde
Para falarmos dos caminhos da Arte Naïf é necessário conhecer a figura de Wilhelm Uhde. Foi ele quem produziu a primeira biografia de Rousseau, um ano depois da morte do artista (1911).
Uhde também é conhecido por ter sido o organizador da primeira exposição de Arte Naïf da história (Paris, 1928). Os participantes foram Rousseau , André Bauchant, Camille Bombois , Séraphine Louis e Louis Vivin , conhecidos como os pintores do sagrado coração. Graças a seu trabalho, os ‘peintres du dimanche’, (pintores de domingo) como eram chamados até então – passariam a se chamar pintores naïfs ou naïves.
No Brasil o termo: “Pintores de Domingo” permaneceria até 1970, quando se passou a utilizar o termo “naïf”.
No Brasil de hoje, o termo Naïf tem sido visto com reservas por diversos segmentos ligados às artes. A intenção histórica parece positiva: ao incluirmos o fazer “naïf” como parte da produção contemporânea, borramos as fronteiras e limites impostos às produções populares e a aproximamos do público com novo olhar. Não parece ser um esforço vão.
Na esteira dessa transformação os artistas naïfs seguem por estradas paralelas: alguns permanecem imutáveis enquanto outros seguem experimentando e testando seus limites.
O Miman surgiu em Paraty com esse exato propósito: servir de testemunha desse momento de transformação, se firmando como uma ponte entre artistas de todo o país e o olhar do público, sempre em movimento.